Eu Já Estive Em “O DJ: Amores Eletrônicos”, de Toni Brandão

Quando comecei ler “O DJ: amores eletrônicos”, tinha em mente que o autor trazia duas histórias acontecendo paralelamente. Diferenciei as histórias por conta do tipo de fonte escolhido para cada momento da trama. A balada e como somos voláteis ao procurar alguém interessante em uma, animal de estimação e quanto ele mostra a índole das pessoas que permeiam seu dono, a corrida de rua e quanto pensamos enquanto corremos, ter duas mães e quanto isso é algo comum, e a tecnologia… a eterna discussão de quanto a tecnologia pode ser legal ou pode aprisionar as pessoas. Esses são alguns pontos que me chamaram atenção na história.
Amy é a protagonista e começa a história em uma balada que vai te deixar dúvidas se é real ou virtual. Jon surge na história na sequência já trazendo situações bem reais da nossa vida, entre elas, o quanto as pessoas – no caso dele a namorada – gostam de stalkear o que fazemos no dia a dia, mesmo que sejam coisas banais. Mas, aqui, a pegada é mais embaixo. Lisa, a namorada de Jon, é possesiva mesmo e usa de um localizador, algo assim, para seguir os passos, literalmente, do seu namorado a todo o momento, por pura insegurança mesmo. Voltando a Amy, sua história é bem complexa e balada surge mais como um escape. Sua família, muito bem de vida, está empobrecendo e ela, foco de jornalistas e haters na internet, não tem muitos momentos de paz, principalmente depois da prisão do seu pai.
Peculiaridades que observei na história: a pista de dança é sustentável e transforma os pulos do público em energia. Isso rolou no último show do Coldplay que fui aqui em São Paulo (2023), onde havia bicicletas e esses pula-pulas onde o público interagia e gerava energia. Adorei o nome dos seguranças da danceteria – Shift e Dell – já que as teclas só têm utilidades juntas, e tem um labrador na obra, o Xicão, então, como não amar. Ponto de atenção: sempre que Amy e sua melhor amiga, Créssida, conversam, o celular está deligado. Atitude que só é valida na ficção ou pode vir a ser bem importante aqui na realidade?
“Ele corre sem música. Já tem barulho demais ecoando pelas ideias zoadas que vão pela cabeça atrevida de Jon.”
“Sem fazer esforço, Jon corre 20 km, nada mais que 15 km assobiando… mas não tem muito fôlego para enfrentar desventuras de sua “aventura humana na Terra”, como diz a música que uma de suas mães adora.”
“A gola do que foi uma… camisa?… está rasgada. O cheio de acúmulo de misérias que exala da figura embrulha o estômago de Amy.”
“O tempo é uma invenção da máquina de criar consumidores, já dizia o poeta.”
“Todas as conexões virtuais têm essa premissa: aprisionar.”
Sinopse: Apesar de ser uma discussão que ganhou força recentemente, o conceito de “metaverso” existe desde 1980. Basicamente, esse universo é uma realidade aumentada onde as pessoas interagem entre si em um mundo virtual, sempre por meio de avatares, simulando interações humanas e as conexões que criamos como consequências delas. Na cultura pop geral, isso já foi retratado em obras como TronJogador Nº 1 (dirigido e adaptado por Steven Spielberg) e por uma das sagas mais famosas de todos os tempos, Matrix. O debate ressurgiu com força recentemente não apenas porque vivemos na era das redes sociais, mas também porque a pandemia da COVID-19 potencializou a necessidade por escapismo e uma realidade “diferente”. O DJ: Amores Eletrônicos, do autor Toni Brandão, entende muito bem e sentimento, misturando uma história que fala sobre temas complexos e, ao mesmo tempo, explorando o tão famoso “metaverso”.
Além de ser um escritor multimídia, já tendo participado também de roteiros e outros projetos, Toni Brandão é um autor conhecido por livros para um público mais jovem, pré-adolescente. Sempre apto para falar de sentimentos de forma leve e divertida, DJ leva sua narrativa para lado distinto, mais jovem-adulto, com personagens que carregam dilemas mais forte, sentimentos que variam e passam pela sexualidade, luto, solidão e medos. Contada por diversos pontos de vista, o principal deles é de Amy, que começa a história em uma balada. Disposta a aproveitar o ambiente que está, ela dança conforme a música e acaba se interessando por Jon. Quando as coisas começam a tomar um rumo inesperado, no entanto, tem que entender exatamente onde ela está e porque está ali.
Em certo momento de Matrix. Morpheus, personagem de Lawrence Fishburne, pergunta: o é real? Como você define real? Se você está falando do que pode sentir, cheirar, experimentar, ver, então real é apenas sinais elétricos interpretados pelo seu cérebro. Em DJ, os personagens de Toni Brandão estão constantemente se perguntando qual é a realidade em que eles e vivendo, e se os seus sentimentos são reais ou não. Além de ter uma gama diversificada de personagens distintos entre si, a narrativa faz um bom trabalho em retratar a disparidade e o mundo real no metaverso e, no processo, constrói um retrato interessante sobre a juventude.
Sobre o autor: Toni Brandão é um escritor, roteirista, dramaturgo e criador multimídia brasileiro que nasceu em São Paulo no dia 3 de dezembro de 1960. É formado em comunicação social pela Escola Superior de Propagando e Marketing (ESPM). A maioria de seus livros e projetos são voltados para o público adolescente e jovem-adulto e refletem sobre as principais questões do mundo contemporâneo. A venda de seus títulos ultrapassa a marca de 2 milhões de exemplares em 25 anos; e renderam ao autor vários prêmios. Entre eles, o APCA, da Associação Paulista de Críticos de Arte. O sucesso editorial no Brasil está fazendo, a partir de 2017, seus livros serem lançados também da França, Bélgica, Suíça, Canadá e outros países de língua francesa. Pela Global Editora tem publicado O garoto verde, Os recicláveis, Aquele tombo que levei, Guerra na casa do João, entre outros títulos.
“O DJ: amores eletrônicos”, de Toni Brandão, tem 304 páginas e é uma publicação da Global Editora. Está à venda nas livrarias de todo o Brasil, nas plataformas de e-commerce e no site da Editora. Deixo aqui meu link na Amazon para encontrar a obra.
Janaína Leme
@eujaestiveem