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Eu Já Estive Em “Democracia Hackeada”, de Martin Moore, pela Editora Hábito

Democracia Hackeada – Como a tecnologia desestabiliza os governos mundiais está entre os 10 livros lidos em 2022 que mais gostei. Talvez por estarmos em um momento em que falar sobre como a tecnologia pode desestabilizar os governos mundiais, seja importante? Sim, pode ser. Mas muito mais do que isso: o autor consegue abordar tudo o que você pode vir a pensar sobre tecnologia e como isso vai impactar as nossas vidas.

O livro é dividido em Introdução, Parte 1: Hackers, Parte 2: Falha de Sistema, Parte 3: Futuros Alternativos, fechando com os agradecimentos. O autor começa bem nos primórdios do que era visto como hackear, apresenta o 4chan, indicado para a criação de memes de forma anônima, já que ninguém pode ser dono de um meme. Também gostei demais entender mais sobre a origem do famoso LOL, que se traduzido do alemão significa sentir prazer na aflição alheia, enquanto no inglês americano é rir às custas de alguém.

Breitbart, Steve Bannon são nomes famosos aqui no livro quando o assunto é converter as eleições presidenciais em uma guerrilha ininterrupta nas redes sociais. Com a vitória de Trump, o autor indica que eles não apenas vandalizaram o processo democrático como também – dado o sucesso eleitoral que alcançaram – forneceram um modelo a ser imitado por outras pessoas. E voltando ao 4chan Moore cita as frases lá postadas depois que Trump venceu: na verdade elegemos um meme para presidente.

Outro nome que aparece no livro é de Mercer, que está longe de ser o primeiro bilionário a tentar desvirtuar a política democrática para fins próprios. Segundo o autor, eles partilhavam apenas de ódio contra a política existente e as instituições de midia e a ânsia por destruí-las. E qual o modelo Mercer usava: desenvolver artimanhas para chamar a atenção – como vídeos gravados com câmeras escondidas e submetidos a pesada edição; enxergar tudo como uma questão política – em especial a cultura; encontrar notícias controversas, com potencial para causar divisões, publicar notícias que rendessem várias continuações. E olha só, foi Mercer que investiu 5 milhões de dólares no que mais tarde se tornaria a Cambridge Analytica.

Você vai conhecer, se ainda não conhece, o Media Research Center – MRC, que trabalhara quase três décadas para desacreditar a imprensa e as emissoras dos Estados Unidos. Enfim, é uma verdadeira aula para quem precisa entender sobre artimanhas políticas nas redes sociais. E não fica apenas nos Estados Unidos. Na Russia temos a história de executivos que perderam seus cargos por se recusarem a revelar dados pessoas de seus usuários, chegando ao ponto de deixar o país. Também passará pela Fábrica de Trolls, de São Petersburgo, a Internet Research Agency, que empregava 600 pessoas para comentar, postar e publicar em blogs online.

Tudo isso mencionado até aqui está apenas na primeira parte do livro, que é finalizada com um estudo de 2017 que mostra que governos de 28 países já tinham se envolvido até então em algum tipo de manipulação nas redes sociais.

Na parte 2 entramos mais detalhadamente nas redes, onde por exemplo, o autor lembra da criação dos dark posts, que podem parecer inofensivos, mas é algo que não ficará no feed de que o publica, sendo assim, depois que o anúncio acaba o post desaparece, uma ótima forma de disseminar Fake News, por exemplo. Também fala sobre o descaso do Facebook no que diz respeito ao conteúdo criado pelos usuários, quando na verdade estava preocupado em buscar formas de ganhar dinheiro. A busca do Google também é mencionada e o quanto se ganha dinheiro com isso. E chegamos a um dos meus capítulos preferidos: a insustentável leveza do Twitter. E é meu preferido por mostrar a realidade nua e crua do jornalismo: uma rede repleta de jornalistas que acabou com a checagem e acabou com os jornais regionais, já que, para quê manter uma redação local sendo que cada um de nós pode ser um correspondente do Twitter?

Já na parte 3, o autor tem o cuidado até de te explicar o que vem a ser uma plataforma tecnológica (algo que tanto usamos atualmente): é o espaço digital em que as pessoas podem produzir e trocar bens e serviços. O Google e o uso do Chromebook nas escolas – você está coletando dados dos alunos – também não passou batido por aqui, já que é uma plataforma que está dando aula e não mais o professor. E, ainda vem a observação: dentro de mais uma década mais ou menos, talvez descubramos, por exemplo, que a educação personalizada, baseada em dispositivos, na verdade retarda a aprendizagem, reduz a curiosidade e impede a socialização…

O surgimento da Lyft, plataforma de transporte americana, a Smart City que Bill Gates comprou o terreno vazio para ser construída (parecendo uma Westworld) são outros assuntos abordados que, se me deixar por aqui, escreverei quase um livro inteiro para falar sobre Democracia Hackeada. Vamos a alguns trechos do livro:

– Porque nenhum de nós é tão cruel quanto todos nós juntos.

– A liberdade, no entanto, mesmo nas sociedades mais libertárias, nunca é absoluta.

– Os dados orientam tudo o que fazemos.

– O anonimato e a impossibilidade de imputação constituem características intrínsecas das plataformas tecnológicas modernas.

– De fato, se você pensa que é capaz de compreender a publicidade digital com base na maneira como a propaganda funcionava no século XX, repense.

– Expostos a montes de postagens noticiosas nas redes sociais (sobretudo, o Facebook), adquirimos a sensação de estar bem-informados, independentemente da real aquisição do conhecimento.

Sinopse: Prepare-se para uma estirpe de democracia. Um mundo de cidadãos reduzidos a dados e sujeitos a análise e processamento, de vigilância em tempo real, no qual o bem-estar está sujeito à criminalidade subentendida. Nesse mundo, a mudança de plataforma do celular causa maior impacto em nossa vida que a mudança de governo; a liberdade e a privacidade são consideradas incompatíveis com o bem-estar social e a transparência compulsória.

Sobre o autor: Martin Moore é diretor do Centre for the Study of Media, Communication and Power e conferencista sênior do Departamento de Política Econômica da faculdade King’s College de Londres. Foi diretor fundador da instituição beneficente Media Standards Trust (2006-2015), onde recebeu os prêmios Knight News Challenge e Prospect Think Tank. Escreve exaustivamente sobre meios de comunicação e políticas públicas e vive em uma fazenda em Oxfordshire.

Democracia Hackeada – Como a tecnologia desestabiliza os governos mundiais, foi escrito por Martin Moore e publicado pela Editora Hábito. Tem 368 páginas, foi lançado recentemente, em agosto de 2022, e está disponível nos formatos digital e impresso. Conheça mais sobre ele no site da editora.

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