Eu Já Estive Em “Antagônicos”, de Aroldo Veiga
O que você faria se encontrasse uma carteira perdida no chão? A decisão de Cainã, em Antagônicos, de Aroldo Veiga, mudou a vida dele. A obra, eletrizante e repleta de antagonismos, é a segunda escrita pelo autor e nos faz refletir sobre muitos pontos, mas para mim, em especial, o quanto o nosso caráter, os nossos valores, não necessariamente estão ligados à educação que você recebe em casa. Se você não tem seus pais como exemplo, quem são os exemplos que formam o caráter de uma criança? Enfim, foi profunda a discussão comigo mesmo aqui!
O livro é dividido em Prólogo – São Paulo, 1982; Parte I – Aracaju, 1979; Parte II – Aracaju, 1984; Parte III – Aracaju, final de 1984; Parte IV – Aracaju, 1987 e Epílogo – Hobart, 2002. Aqui vale ter atenção no início da leitura porque de 82, volta para 79 e pula para 84 onde as histórias de convergem e assim segue até o fim.
Cristiano traz uma realidade de família brasileira para alguns: pais ricos (dona Jacinta e seu Alfredo) com o pai atuante na Construção Civil e mãe dona de casa. Giselda, irmã do pai, mora em Aracaju e vai ser peça importante para a convergência das histórias. Do outro lado temos Cainã, morador da periferia, que deixa o pai alcoólatra em casa todo dia e sai para garantir o sustento da casa. Tem como seu melhor amigo, Saci. E quanta mudança na história a partir do momento que Cainã encontra uma carteira caída no chão da praça.
A meu ver, o nome Antagônicos não podia ser melhor para essa obra, justamente por trazer personagens de realidades tão diferentes, mas de caráteres tão marcantes. Não é a dificuldade que a vida está impondo em determinado momento que vai mudar o caráter de um, enquanto outro, que tinha tudo para ter uma vida mais encaminhada, se transforma totalmente em um mau-caráter. Aí você pensa: o pai dele é um bêbado, essa criança não vai para frente, será? A mãe dele está doente, esse jovem vai ser uma pessoa melhor depois disso, será? Ele buscou ajuda em uma religião, agora Deus vai acalmar o coração dele, será? Realmente é tudo muito antagônico. E o amor, né? Como o amor mexe com os sentimentos mais profundos das pessoas. Mariana é quem vai fazer tudo se “confundir” entre Cainã e Cristiano.
Vale destacar que assim como em Trono de Cangalha, primeiro livro de Aroldo Veiga (já lido e resenhado por nós), “Antagônicos” vem repleto de plot twist, o que para mim marca uma característica do autor. Uma taquicardia a cada página entre nós leitores. Também vale observar que os personagens estão vivendo a adolescência e os hormônios estão fervendo, então tenha paciência com as atitudes dos jovens que estão se descobrindo, principalmente no que diz respeito ao amor. E não se prenda aos coadjuvantes, Aroldo mata quem precisa morrer e traz desfecho para todos os personagens que surgem na trama, pode esperar. Um livro para ser maratonado.
Vamos a alguns trechos da obra:
“As cenas pareciam passar em câmera lenta, e os sons, reverberavam lhe aos ouvidos como se ecoassem de algum lugar muito distante.”
“Por um bom tempo os dois caminharam em silêncio, cada qual a remoer as próprias mazelas, até que, por fim, alcançaram a avenida que separava dos ricos o mundo dos pobres.”
“Aprenda uma coisa, meu filho. Você merecerá tudo o que exigir da vida. Jamais se esqueça disso.”
“Enquanto dona Jacinta nutria a crença na vida eterna, Cainã acreditava que, após a morte, nada mais havia além de um interminável vazio, uma infinita ausência de tempo e consciência. Por isso tinha urgência em tudo o que fazia.”
“Você não precisa de permissão alguma para conseguir o que quer da vida, meu filho. Toda força está dentro de você e não fora.”
“Isso também vai passar. Tudo nessa vida passa. E um dia, quando você olhar para trás, vai ter a impressão de que tudo foi apenas um sonho.”
Sinopse: A vida nunca foi fácil para Cainã. Sem mãe e com o pai alcoólatra, o menino precisou trabalhar desde cedo para sobreviver. Já Cristiano, nunca precisou se preocupar com nada, até se deparar com as primeiras adversidades na adolescência. Suas vidas foram marcadas por diferenças culturais, financeiras e religiosas; trajetórias tão antagônicas que, não fosse por Mariana, a bela e cativante sobrinha do bispo, jamais teriam se cruzado, muito menos entrado em rota de colisão. Cristiano a endeusava, e Cainã a amava acima de tudo. Entre eles, uma disputa visceral, travada ao longo de duas décadas, cheia de reviravoltas e efeitos colaterais, um mergulho na essência mais profunda do ser humano, seus dramas e contradições – uma trama digna de grandes mestres enxadristas.
Sobre o autor: Aroldo Veiga nasceu em 1973 em Aracaju, capital do menor estado brasileiro. É graduado na área de licenciatura e possui especialização em Língua, Linguagem e Literatura. Ainda criança, teve os seus primeiros contatos com os livros, e apesar da paixão pelas letras, só publicou o seu primeiro romance em 2021. É casado e tem uma filha. Antagônicos é sua segunda produção literária.
”Antagônicos”, de Aroldo Veiga, foi publicado pela Ases da Literatura, tem 264 páginas e está à venda no formato impresso e digital nas plataformas de e-commerce. Também é possível encontrá-lo em algumas livrarias de todo o Brasil. O livro de estreia de Aroldo, Trono de Cangalha, publicado em 2021, segue disponível no formato digital. Quem quiser conferir também, um livro e tanto, que já recomendamos por aqui 😊.
Janaina Leme
@eujaestiveem
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