Pular para o conteúdo

Eu Já Estive Em “Quem Falou?”, de André Cunha

Fala gente, tudo bem? Na resenha de hoje vamos apresentar, “Quem Falou?”, novo título de André Cunha, o terceiro livro do autor que lemos por aqui!

Com o objetivo de amar e ser amada, Rebeca, 30 anos, natural de Floripa, jornalista desempregada, começa a história com um dilema: está namorando um, grávida de outro e, se não bastasse todo o dilema, ainda sofre com a endometriose.

O livro é dividido em quatro partes. A primeira é a mais longa, já que o autor aproveita para apresentar a personagem, a situação atual de Rebeca, e faz com que ela divague em uma festa trazendo mais detalhes de um primeiro relacionamento, antes desse que está prestes a terminar e do terceiro, o pai do filho que ela espera. Rebeca divaga mesmo aqui, além da festa, ainda vai até Garopaba, também em Santa Catarina, para contar mais sobre seus momentos com esse primeiro namorado – é aqui que ela queria que a mãe de uma menina que se afeiçoou morresse para que ela pudesse assumir a maternidade.

Seguindo as polêmicas, vamos para seu vídeo com cenas impróprias que vazou na internet, que lhe rendeu uma fama nada convencional, mas também um emprego na Record.

A segunda parte é focada no relacionamento atual, mas com ligação na festa, já que foi nessa festa da parte um que ela conheceu o dono do laboratório que vai enriquecer a rodo durante a pandemia de Covid-19 por desenvolver os testes rápidos para detectar a doença. Rebeca tira bem proveito de tudo o que a grana pode proporcionar. Nessa parte inclusive, Rebeca solta todas suas amarras, é contaminada pela Covid-19, perde o paladar, mas não perde a disposição para buscar emoções, aonde quer que fosse, já que o namorado rico do laboratório, não tem tido muito tempo de ficar em casa. Aqui, inclusive temos uma cena no elevador das torres onde mora com o namorado, em Balneário Camboriú, que para mim foi a mais constrangedora do livro. Faltava uma amiga aqui para segurar a onda e privá-la disso.

A terceira parte vem apresentar o terceiro namorado de Rebeca na trama, e aqui, não sei se proposital ou não porque coincidiu certinho com a data da novela estar passando, temos a citação a Renascer, já que o namorado é a cara do Marcos Palmeira. E a quarta e última parte, mais curta em comparação com todas as outras, é praticamente o desfecho. E vale muito ler as notas, já que parte do conteúdo são algumas entrevistas feitas por Rebeca quando ela atuava em sua coluna “Quem Falou?”.

André Cunha traz para o contexto a infantilidade masculina, algo que o autor já abordou em outras obras que escreveu. Para quem gosta de procurar referências, tem muitas, de Jim Morisson a Chico Buarque. Dando uma pincelada nos temas então, temos a Covid-19 e o enriquecimento da Centerlab com testes rápidos para detectar a doença, a ideia de adotar uma criança, críticas à Florianópolis que vende ser a Ilha da Magia, quando na verdade é, segundo Rebeca, a meca dos aposentados, capital de um estado notório pela prática disseminada do racismo recreativo – Não existe amor em Santa Catarina (eu achei que era só em SP).

Tem uma crítica aos playboys em geral, que ostentam as mulheres belas ao invés de amá-las; uso dos ansiolíticos para segurar a pandemia e quanto isso impactou as pessoas depois, o contraste vivido entre o número de mortes e festas rolando em condomínios fechados. Mas calma que mesmo com tantas problemáticas o clima de Good Vibes continua porque o amor vence no final.

A meu ver, Rebeca traz de forma acentuada pontos com que toda mulher já teve que lidar.  Como mulher, é difícil não pensar nas consequências de se expor da forma como Rebeca se expõe. Pode ser que existam Rebecas por aí, mas acho que o mundo não está preparado para elas porque por bem menos somos excessivamente julgadas todos os dias. Obvio que você tem a opção de não ligar para nada e seguir, mas quando trabalhamos, temos que lidar com pessoas e clientes, pagar boletos, muito da Rebeca em nós precisa ser adormecido. Todo mundo gosta de se divertir numa montanha russa, mas quer dormir numa cama quentinha.

Alguns trechos do livro:

“… alguém falou que o melhor elogio que se pode fazer a uma pessoa é que ela tem uma mente perigosa… lembra?”

“Na verdade, pensei outras coisas, tipo: é impressionante como homens são infantis, é fato científico que o desenvolvimento emocional deles é precarizado.”

“Por que certos diretores insistem em acreditar que filmar algumas tomadas subaquáticas vai tornar seus filmes mais profundos?”

“Um homem com uma dor é muito mais elegante.”

Sinopse: Comprometida com um e grávida de outro, a destemida e temperamental Rebeca Witzack lida com o problema enquanto relembra o passado: a balada em Jurerê internacional que deflagrou sua sede de vingança, o dia em que teve cenas íntimas vazadas na internet, a experiência heterodoxa como colunista de um portal de notícias, o pesadelo pandêmico vivido em meio ao luxo à loucura. Passando pela periferia de Florianópolis, por um arranha-céu repleto de celebridades em Balneário Camboriú e por outros cenários de Santa Catarina, Quem Falou? é uma comédia romântica inteligente que fala sobre testes virais, endometriose, lontras, futevôlei, ansiolíticos, Chico Buarque, sósias, mentiras sinceras, meias verdades e otras cositas más.

Sobre o autor: André Cunha publicou o romance Brasília, Gravidade Zero, finalista do Prêmio Sesc de Literatura de 2015, pelo selo Jovem; a novela satírica Colisão Frontal, pelo Grupo Editorial Caravanas; a ficção especulativa O Futurista – Reportagens que vão mudar o fim do mundo, e o livro didático Ciência Política Descomplicada, pela Trevo. Também escreve na imprensa.

Quem falou?, de André Cunha, tem 160 páginas, foi publicado pela Editora Penalux e está à venda nas livrarias de todo o Brasil, assim como nas plataformas de e-commerce.

Janaína Leme

@eujaestiveem

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.