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Eu Já Estive Em “Faça-os Ler”, de Michel Dermurget, publicado pela Editora Vestígio

Para uma pessoa como eu, que gosta tanto de ler, ler um livro, escrito por um pesquisador francês, especializado em neurociência cognitiva que comprova pôr A + B que ler é importante para não criar cretinos digitais, é um prato cheio para você repetir a frase “eu te disse” a praticamente cada parágrafo.

O autor do best-seller A fábrica de cretinos digitais, Michel Desmurget, traz mais uma série de dados que comprovam que a leitura estimula a inteligência das crianças em “Faça-os Ler – Para não criar cretinos digitais”, mais uma publicação da editora Vestígio.

O livro é dividido em Apresentação, cinco parte e epílogo. Logo na apresentação – Ler por prazer – o autor faz várias referências ao seu livro anterior e enaltece a leitura, deixando claro que “chegou a hora, por assim dizer, de recolocar o livro em seu devido lugar e demonstrar que a leitura ‘por prazer’ de maneira alguma constitui numa prática elitista, reservada a alguns privilegiados eruditos, mas sim uma necessidade urgente de desenvolvimento para nossas crianças”.

O autor começa a obra com a infância, numa parte cheia de dados e mostra o quanto efetivamente é importante ler para crianças, destaca a importância da leitura compartilhada, inclusive independente da faixa etária. Isso porque muitos pais param de ler com os filhos na adolescência, mas eles querem a leitura dos pais. “Se você deseja que seus filhos leiam sozinhos, leia histórias para eles, independentemente de sua idade; e mesmo quando eles se aproximarem da adolescência.”

Depois entramos mais na idade escolar e quanto efetivamente cada um lê, o que é praticamente nada porque a leitura perde espaço para todas as outras distrações. Aí vem uma recomendação que inclusive damos aqui para os adultos – se todos lessem 20 minutos por dia, quase leriam um livro por mês dependendo do tamanho do livro, o que seria muito acima da média falando de Brasil, por exemplo.

O autor é francês, então o livro é bem repleto de dados, que na maioria das vezes mostram números europeus, o que, por outro lado, mostra o problema com a falta de leitura é global, com uma pequena exceção da China, já que eles têm políticas mais rígidos quanto ao uso de dispositivos móveis, o principal vilão disso tudo aqui.

Mas aí você vai me perguntar: por que tanta insistência para que todos leiam? Porque quem não lê não escreve e não interpreta texto.

Tem exemplo de exercícios que mostram o quanto as pessoas cada vez menos conseguem interpretar textos, e é preocupante porque a conclusão é de que em breve grandes obras literárias serão resumidas em 140 caracteres para caber em um tuíte, já que é possível observar que grandes clássicos da literatura mundial já sofrem modificações para um texto mais simples.

A criança que não lê além da escola não vai ultrapassar os estágios da compreensão de leitura básica – aprender a ler não é aprender uma nova língua, é aprender a codificar de maneira diferente uma língua que já conhecemos. Os professores se ocupam da decodificação, quanto ao resto, ou os pais entram em ação, ou a criança fica desamparada “É a família, em grande parte, que forma leitores”. O autor chega até a abordar formação de palavras, sintaxe, etc., é uma obra bem completa.

A segunda e a terceira parte são praticamente aulas sobre como interagir entre a leitura e seu filho, não transformando o dia a dia em uma extensão da escola porque não precisa ser enfadonho como na sala de aula, mas os pais precisam brincar com os filhos e a leitura versus novas palavras sempre que possível, porque a responsabilidade do aprendizado não pode ficar na escola.

E a todo tempo ele reforça: não é só para as crianças, é importante que a leitura coletiva siga até a adolescência, mudando os livros, mudando os estilos, mas para que os livros sigam na vida dos filhos até efetivamente se tornar um hábito porque o nosso cérebro foi treinado para esse tipo de exercício. “… desde o surgimento da linguagem, a humanidade na inventou nada melhor que a leitura para estruturar o pensamento, organizar o desenvolvimento do cérebro e civilizar nossa relação com o mundo; o livro literalmente constrói a criança em sua tripla dimensão intelectual, emocional e social”.

E tem outros tantos trechos do livro que deixei marcado que não caberiam todos aqui, mas seguem mais alguns:

“O lugar ocupado pela leitura na infância tem um peso significativo na vida adulta.”

“… o constante aumento do número de títulos concedidos pelas instituições de ensino superior não indica de forma alguma que nossos filhos estejam se tornando cada vez mais educados; ele apenas mostra que ‘a taxa de cretinos diplomados não para de crescer’.”

“Em outras palavras, na maioria das vezes, o leitor interpreta o que lê com base no que já leu (ou ouviu). Se ele não leu o suficiente (ou ouviu), sua compreensão inevitavelmente se espatifa contra o muro de suas lacunas.”

“… quanto mais o ambiente familiar saturar a criança de vocabulário, variações gramaticais, trocas conversacionais, melhor o cérebro se desenvolverá.”

Sinopse: Ler por prazer é um importante antídoto contra o surgimento do “cretino digital”. Centenas de estudos mostram que essa prática traz enormes benefícios para a linguagem, os conhecimentos gerais, a criatividade, a atenção, as competências de escrita, as competências de expressão oral, a compreensão dos outros e de si mesmo, e a empatia, com um impacto considerável no sucesso acadêmico e profissional. Nenhum outro hobby oferece tantas vantagens. Através da leitura, as crianças nutrem os três pilares fundamentais da sua humanidade: competências intelectuais, competências emocionais e competências sociais. Michel Desmurget mostra que nossos filhos leem cada vez menos, rejeitando a ideia de que as crianças em idade escolar aprendem a ler quando conseguem decifrar letras, e nos lembra que ler é compreender. Examina os fundamentos dessa compreensão e identifica as alavancas que permitem aos pais encorajarem e manter o gosto pela leitura nos seus filhos.Por fim, sem negar o papel da escola, defende que a instituição de ensino nunca poderá compensar um ambiente familiar insuficientemente estimulante. Essa síntese de interesse geral fornece informações essenciais, principalmente aos pais, sem nunca os fazer sentir culpados. Fascinante e poderosamente benéfico!

Michel Desmurget é um pesquisador francês especializado em neurociência cognitiva. Em 2011, foi nomeado diretor de pesquisa do INSERM – Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica França. Seu livro best-seller A fábrica do cretino digital, publicado no Brasil em 2021, foi descrito pela rádio France Inter como um “livro de saúde pública”, e recebeu o Prêmio Femina de Ensino em 2019.

Faça-os Ler – Para não criar cretinos digitais, de Michel Desmurget , publicado pela Editora Vestígio, tem 384 páginas e está à venda nas livrarias de todo o Brasil, assim como nas plataformas de e-commerce no formato impresso e digital.

Janaína Leme

@eujaestiveem

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