Eu Já Estive Em “Muito mais que um crime”, escrito por Philippe Besson, publicado pela editora Vestígio
Dia de resenha literária e hoje vamos falar sobre um livro que a temática é uma, mas a conexão comigo se deu não pelo motivo principal do livro, mas por todo o contexto da história. Vamos lá que vou explicar mais 😊
Hoje vamos falar sobre “Muito mais que um crime”, escrito por Philippe Besson e publicado pela querida editora Vestígio. O autor já traz o ápice da história no primeiro capítulo, com a forte frase “papai acabou de matar mamãe”. Aí engana-se quem pensa que o livro é, entre aspas, só um livro sobre feminicídio. É muito mais, é um livro sobre todos os traumas e passagens que precisam ser vividas por aqueles que aqui ficam após vivenciarem uma situação como essa. Para mim, mais um livro da Vestígio essencial para todos os leitores.
Sim, sabemos bem que no Brasil, em 2023, foram registrados 1.463 casos de feminicídio, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ou seja, cerca de 1 caso a cada 6 horas. Então, temos consciência da importância de saber mais sobre esse tema porque pode ser justamente numa leitura como essa que você pode identificar algo que esteja acontecendo com você e/ou com qualquer pessoa a seu redor.
Mas, por que “Muito Mais que um Crime” faz jus ao nome e realmente é muito mais que um crime? Porque ao entrarmos em contato com a morte da mãe, nos deparamos com os dois filhos que aqui ficam, uma, a irmã mais nova de treze anos, entrando na adolescência, e o filho mais velho, com dezenove anos, deixando toda uma possível carreira de bailarino que estava por vir, que vem para acudir a irmã e tratar de todos os trâmites sobre o ocorrido. Ele, sem nome, ela, Léa. Ele conta toda a história do ponto de vista do irmão mais velho com detalhes do que acontece após um crime como esse: como você recebe a informação? Como você processa a informação? Você já tinha parado para pensar que seu pai poderia estar maltratando sua mãe? Ele não morava com a mãe, sendo assim, o quanto deixou passar algo e vai se sentir culpado pelo crime por toda a vida? Quanto tempo o corpo vai ficar na casa? Eu vou ter que ser interrogado por isso? Eu vou ter que abandonar a minha carreira agora para cuidar da minha irmã? Como vamos sobreviver financeiramente?
E enquanto tudo isso vai acontecendo na obra, o autor vai intercalando com a história dos pais, caminhando para o fim do livro que é aberto, como nossa vida. E, sim, gente, os que aqui ficam têm muito o que contar porque são muitos os traumas e situações que permeiam o que eu também chamo de vítimas de um crime. Vítima é quem morre, mas um pouco também, quem fica. E aí é onde eu conecto com o que disse no começo que foi a grande conexão comigo: perdi meus pais em um assalto e ficamos aqui eu e meu irmão. Sim, são crimes diferentes, mas todo o luto e sentimentos do pós crime, principalmente por serem dois irmãos e aqui também somos eu e meu irmão, traz muito a lembrança de tudo o que vivemos.
Alguns trechos do livro:
“Mas nessas horas, pobres e frágeis, agarramos a primeira mão estendida e damos ouvidos às vozes que soam gentis.”
“… eu acabava de compreender que, sim, nada seria como antes, nossa vida agora pertencia às páginas de crimes, tudo emanava da polícia, da justiça, e nossa voz tinha sido confiscada.”
“Eu precisava dessas falsas esperanças, pequenas mentiras, para não perder o juízo.”
“A realidade é que raramente a gente procura saber quem eram nossos pais antes de se tornarem nossos pais.”
“Às vezes nossas trajetórias são decididas pelos outros.”
Sobre o autor: Philippe Besson é um renomado escritor, dramaturgo e roteirista francês, nascido em 1967. Ele tem em seu currículo mais de vinte obras publicadas, com várias delas tendo ganhado adaptações para o cinema e o teatro, além de terem sido traduzidas para diversos idiomas. Sua trajetória literária começou em 2001 e, desde então, recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Emmanuel-Roblès pelo seu primeiro romance, Na ausência dos homens (Rocco, 2007), e o Grande Prêmio RTL-Lire por L’Arrière-saison, de 2002. Besson também se destaca no meio audiovisual, colaborando na criação de roteiros para filmes e séries. Seu romance de 2017, Arrête avec tes mensonges [Deixe de mentiras], foi amplamente premiado e conquistou grande sucesso internacional. Com Muito mais que um crime, Besson nos lembra por que é considerado um dos maiores autores franceses contemporâneos.
“Muito mais que um crime”, escrito por Phillipe Besson, e publicado pela Editora Vestígio, tem 174 páginas e está à venda nas livrarias de todo o Brasil e nas plataformas de e-commerce no formato impresso e digital.