Eu Já Estive Em “Duas Mães e Uma Filha”, escrito por Maíra Donnici

Eu não deveria sugerir isso! Normalmente quando falamos de livro a ideia é que todos leiam todo o conteúdo, mas se isso for um empecilho e a pessoa precisar ler um capítulo apenas aqui, por favor, leia “Cinquenta tons de preconceito e desinformação. E o bloco dos sem noção!”. Sim, o preconceito e a falta de noção das pessoas foi um dos pontos que mais me chamou a atenção e me deixou inquieta ao ler “Duas Mães e uma filha”, de Maíra Donnici.
Por que começo por esse capítulo? Porque fico indignada com a falta de noção das pessoas em perguntar o que quer para o outro sem se preocupar se essa atitude pode machucar ou não aquele que está sendo questionado. Não, não somos obrigados a saber tudo. Eu mesma tirei dúvidas com a Maíra enquanto lia o livro, mas bom senso deveria ser algo básico na vida de toda pessoa. É nesse capítulo que Maíra conta quantas inúmeras vezes teve que responder que Antônia, filha que decidiu ter junto com Inês, não tem pai. São duas mães e é isso! E para quem insiste tanto em saber sobre o pai, não é pai, é doador.
Aí eu já te instiguei a ler o livro todo porque Maíra conta com muita liberdade quando e como foi seu momento de “sair do armário”, como Inês ganhou todo o espaço dela na vida da Maíra, a decisão de engravidar e todo o processo para engravidar “fora da norma”, como ela mesmo comenta no livro. É uma aula enorme porque traz muitas verdades, um tapa na cara mesmo de quem nunca parou para pensar em muitas coisas como, por exemplo, essa frase deixada pela própria Inês: “Como dói preencher formulários onde o espaço destinado ao meu nome é o ‘nome do pai’ ou do ‘cônjuge’. Livros e mais livros com parágrafos destinados ao papai ajudando a mamãe. Não encontrei NENHUM sobre famílias.”
Maíra traz detalhes sobre a família, sobre sua carreira, sobre a importância de contar sobre a gravidez para alguém em quem você confie no ambiente de trabalho e detalha todos os altos e baixos do tratamento hormonal, de toda a ansiedade que envolve a mulher que passa por uma gravidez e no caso dela, ainda tendo que lidar com a falta de noção das pessoas que ainda não enxergam a possibilidade de casais homoafetivos terem seus filhos. Ah, minha dúvida foi justamente sobre a licença-maternidade, e Maíra me explicou que por lei é só para quem engravida, aí vai caso a caso das empresas e instituições, já que algumas já oferecem benefícios para a família como um todo.
Vale destacar que a ideia do livro veio depois de escrever e analisar seus textos em seu blog. Então são textos curtos e intensos. Sim, ela se questionou muitas vezes em expor sua vida dessa forma, mas ainda bem que o fez. É um aprendizado sem tamanho para quem abraçar a jornada e ler também!
Vamos a alguns trechos do livro:
“Lembro que, a cada fim de texto, era como remover um peso para ir adiante.”
“É estranho refletir que nossos filhos vão ser feitos a partir do DNA de uma pessoa que a gente nunca vai ver na vida. Isso realmente mexeu comigo.”
“O armário é um lugar sombrio e solitário, para o qual não vou voltar jamais.”
“Foi dolorido. Aterrorizante. E consciente. Cada raiar de dia era o fim de uma noite. Uma batalha vencida. Sofrida e possível.”
“Cinquenta tons de preconceito e desinformação. E o bloco dos sem noção!”
“… nem todas as famílias eram iguais e que não ter pai não era uma ausência.”
Sinopse: A história de amor entre duas mulheres que decidem dar as mãos e formar uma família. O processo para engravidarem e suas implicações. A evolução de uma gestação com medos, ansiedade e uma intensa trajetória de desconstrução interna e autoaceitação. Os primeiros meses de dupla maternidade. A luta por inclusão. Durante mais de um ano, a jornalista Maíra Donnici registrou na internet sua intimidade, expôs anseios e fragilidades e descreveu os caminhos que a tornaram mãe, junta- mente com sua mulher, Inês. Quando finalmente resolveu revisitar aquele período e reler seus depoimentos, entendeu que era hora de organizar um livro. Duas mães e uma filha é um relato de coragem, entrega e parceria.
Sobre a autora: Maíra Donnici é formada em jornalismo pela UFRJ e trabalhou por duas décadas em redações de veículos de comunicação. Foi repórter, editora e produtora durante dezessete anos na Globo e na GloboNews. Dirigiu e roteirizou cinco documentários, entre eles Visita presidente, Não é amor, Nunca foi amor e Meus 18 anos, exibidos na GloboNews e no Globoplay. É pós-graduada em diversidade e inclusão para organizações, palestrante e fundadora do Ser+Inclusiva, empresa de consultoria, letramento e produção de conteúdo em diversidade, equidade e inclusão.
“Duas Mães e Uma Filha”, escrito por Maíra Donnici, tem 161 páginas e está disponível nos formatos impresso e digital nas plataformas de e-commerce. Vale falar com a autora também pelas redes sociais para saber mais sobre edições autografadas.
Janaína Leme