Pular para o conteúdo

Eu Já Estive Em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, publicado pela Global Editora

Se fosse pelo desfecho de Baleia, eu jamais sugeriria a alguém ler Vidas Secas, de Graciliano Ramos, mas por toda a importância que essa obra tem para a nossa literatura nacional, sim, leiam Vidas Secas, porque acontece com Baleia é só uma das consequências do que ainda acontece na vida de muitas pessoas. É a segunda vez que leio e é bem interessante ler em idades tão diferentes, 20 e 40 anos.

Com 20 anos e com o peso de ler algo para a escola provavelmente estive em contato com a história, conheci os personagens e fiz prova. Lendo novamente tempos depois, a obra fica muito mais intensa, a crítica social ficou muito mais escancarada também e mesmo publicado em 1938, é algo totalmente atual, já que a desigualdade social segue firme e forte, atravessando gerações em nosso país.

Toda a família é apresentada logo no primeiro capítulo: Fabiano, Sinha Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia. Também tem o papagaio, mas esse já é apresentado morto. A ocupação de um lugar para morar, tema tão discutido em nosso Brasil, acontece também no primeiro capítulo. Fabiano vai ocupando a casa, o terreno. Acalma as dores do dia a dia na bebedeira, arranja briga em bar, o sonho de ter uma cama macia, conseguir ter um par de sapatos que realmente caiba nos pés, sem apertar tanto que machucasse os dedos. Até as questões climáticas se fazem presentes na obra, já que a água, que hora falta e quase mata de sede, chega com força e quase leva tudo o que vê pela frente, além do frio que entra pelas frestas da casa e congela a todos, que só têm uma fogueira para se aquecerem.

Enfim, deixo aqui um pouquinho de tudo o que reler “Vidas Secas” me fez refletir novamente. De novo, me abstive de falar sobre Baleia, porque foi um capítulo bem difícil de ler para mim.

Sinopse: Certa vez Graciliano Ramos disse que uma de suas missões pessoais era registrar, através da ficção, a intensidade trágica do cotidiano de retirantes do início do século XX que buscavam esperança longe da seca nordestina. Tarefa magistralmente executada com o livro Vidas Secas. Construída pela escrita precisa e penetrante do autor, a narrativa é permeada pelo desamparo e pela desesperança. Um enredo impactante, uma história de coragem, de encontros, de saberes e de dissabores de seres humanos e animais que persistem à procura de seu lugar no mundo. Peça fundamental da literatura nacional, Vidas secas é um retrato em várias dimensões do Brasil a partir do relato da história de uma família sertaneja. O casal Fabiano e Sinha Vitória, seus dois filhos, “o menino mais novo” e “o menino mais velho”, e a cachorra Baleia tentam fugir de uma situação de extrema pobreza e carência. Cada personagem é a encarnação de tantas e tantas pessoas que sofrem com as desigualdades e dramas de nosso país. Para fazer jus a sua relevância, o volume conta com posfácio de Alfredo Bosi, um dos maiores críticos literários brasileiros.

Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892, e faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1953. Foi romancista, contista e cronista. Publicou em 1933 seu primeiro livro, Caetés, cuja recepção crítica prontamente salientou estar ali em gestação uma voz ímpar na literatura brasileira. Além de Caetés, Graciliano compôs um conjunto magnífico de livros que seriam protagonistas no cenário literário brasileiro moderno: Vidas secas, S. Bernardo, Angústia, Infância, Insônia, entre outros. Em 1953, seria publicado postumamente Memórias do cárcere, narrativa de gênero híbrido que tem como mote a perseguição política e a repressão capitaneadas pelo governo de Getúlio Vargas a partir de 1935, das quais o escritor chegou a ser vítima, tendo sido preso em 1936. Parte considerável dos escritos de Graciliano Ramos denota sua sincera preocupação com os desajustes sociais e políticos do Brasil de seu tempo. Suas narrativas concebidas por meio de uma linguagem concisa, desapegada de ornamentos estéticos e profundamente perspicaz, permanecem como monumentos literários a serem contemplados pelos que anseiam se dedicar à arte da palavra escrita.

Aqui vale falarmos da capa dessa edição linda da Global Editora, uma ilustração de J. Borges. José Francisco Borges, conhecido artisticamente como J.Borges, foi um artistacordelista e poeta brasileiro. Foi um dos mais famosos xilógrafos de Pernambuco. Começou o trabalho com xilogravura para ilustrar suas histórias em cordéis, hoje elas são vendidas a colecionadores, artistas e intelectuais, também já publicou vários álbuns. Faleceu recentemente, em julho de 2024, aos 88 anos. S. Bernardo, de Graciliano Ramos, também publicado pela Global Editora, traz outra ilustração de J.Borges na capa.

Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicado pela Global Editora, tem 140 páginas e está disponível nas livrarias de todo o Brasil e nas plataforma de e-commerce.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.