Eu Já Estive Em “O Mar de Vidro”, de Gabriela Lages Veloso, publicado pela Caravana Editorial

“Meus caros, esta casa está pegando fogo
é tão grande, tão rica,
desde que não se repare
nos simples problemas e
viva como se não houvesse amanhã.”
Esse é um trecho de “Anúncio”, uma das 44 poesias que estão presentes em “O Mar de Vidro”, escrito por Gabriela Lages Veloso e publicado pela Caravana Editorial.
Segundo texto de apresentação da obra, escrito por Marta Cortezão, O mar de vidro nos revela, por uma linguagem poeticamente elegante, a profundidade de dois grandes símbolos universais: a água e o espelho. De um lado, o mar como representatividade do curso da existência humana e a instabilidade de seus sentimentos e desejos; de outro, o espelho, superfície do mar que reflete a imagem contemplada e que a confronta com seus reais abismos, aqueles do eu profundo, a alma
A autora divide as poesias em três partes: Gaia, Vênus e Atena. Durante a leitura, eu acabei me identificando mais com os textos que estão em Vênus e Atena.
“Mar de Vidro”, por exemplo (que dá nome à obra) ganhou o 2º lugar no Prêmio Emílio Lansac Toha, promoção pela Academia de Letras de São João da Boa Vista–SP, em 2022. E deixo um trecho aqui que, a meu ver, é inspirado em Clarice Lispector, já que o livro traz menção a ela logo nas primeiras páginas:
“Espelho, és o poço mais
profundo que existe.
Era uma só mirada
Atravessas as barreiras
do tempo e da vida.”
Há textos dedicados também, como Selene, dedicado à Bruna Lages Veloso, Aster, in memoriam de Kátia Lima.
“Holograma” me marcou pelo questionamento: “algo vazio pode ter profundidade?”. “Retrato” me chamou a atenção por “Com a palavra, eu fotografo o mundo.”
Me identifiquei muito com a (RE)alidade que os poemas Rever Recomeço, Reconstrução e Reviver trazem ao leitor. Também tem “Relógio de Areia”, com um chamado para lutar pela arte e por seu espaço.
E escolhi ler justamente o poema que encerra o livro, porque acredito muito que a coragem que existe em cada um de nós pode ser usada de forma positiva para nos ajudar em muitos aspectos. Esquecemos o quão corajosos podemos ser, não só em atitudes heroicas, mas em decisões do dia a dia que podem mudar a nossa vida. Esse texto é: Liberdade
“Liberdade”
Ser livre é
viver sem ressalvas,
sair da caverna,
falar aos quatro ventos,
e ouvir os inevitáveis ecos.
Ser livre é
Libertar o outro,
E não fechar os olhos
Para as multidões de anônimos.
Ser livre é
despir-se de preconceitos,
abraçar as diferenças,
e reinventar, diariamente a vida.
Ser livre exige coragem.
Sinopse: O mar de vidro, da poeta maranhense Gabriela Lages Veloso, nos revela, por uma linguagem poeticamente elegante, a profundidade de dois grandes símbolos universais: a água e o espelho. De um lado, o mar como representatividade do curso da existência humana e a instabilidade de seus sentimentos e desejos; de outro, o espelho, superfície do mar que reflete a imagem contemplada e que a confronta com seus reais abismos, aqueles do eu profundo, a alma: “Tua dura água reflete / e encanta os Narcisos, / levando-os ao eterno / descontentamento (…) Espelho, és o poço mais / profundo que existe” (O mar de vidro). A leitura dos versos de Gabriela nos conduz a uma viagem pelo conturbado mar da essência humana sob o oráculo da Tríade Divina: Gaia, a Mãe Terra, símbolo da fertilidade e da renovação, a origem de toda a vida; Vênus, a que aviva o desejo apaixonado dos corações humanos e que busca pela sublimação do amor e Atena, símbolo da comoção e evolução humanas, a que prima pela reflexão. Mergulhar nesse mar de vidro é fertilizar a alma!
Gabriela Lages Veloso é escritora, poeta, crítica literária e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Atualmente, é colunista do Feminário Conexões. Já colaborou com coletâneas e revistas no Brasil e no exterior. É autora do livro Através dos Espelhos de Guimarães Rosa e Jostein Gaarder: reflexos e figurações; e organizadora da antologia Poéticas Contemporâneas: uma cartografia da escrita de mulheres.
“O Mar de Vidro”, de Gabriela Lages Veloso, publicado pela Caravana Editorial, está à venda no site da editora no formato impresso. Tem 68 páginas, gênero Poesia e capa e editoração eletrônica de Júlia Oliveira.
Janaína Leme