Eu Já Estive Em “Velar por ela”, de Jean-Baptiste Andrea, publicado pela editora Vestígio

Esse livro foi uma virada de página na minha humilde vida de leitora por aqui. A forma como é escrito, a riqueza de detalhes, o sentimento pulsando nas palavras, foi um livro que li devagar para que ele não acabasse, mas acabou e ficará para sempre na memória. Esse é “Velar por ela”, de Jean- Baptiste Andrea, publicado pela querida editora Vestígio.
Esse não é o primeiro livro de Jean- Baptiste que lemos, já passou por aqui “O pianista da estação”, que também é maravilhosamente incrível, mas ao ler “Velar por ela” você consegue entender realmente a dimensão que uma obra literária precisa ter para conquistar o Prêmio Gouncourt. Também é vencedor do prêmio Fnac.
Além fazer com que eu me tornasse uma pessoa mais analítica com o conteúdo, “Velar por ela” me ensinou muito sobre esculturas. É um tipo de arte que nunca parei para prestar atenção com carinho, mas ao acompanhar a saga de Mimo aqui no livro, acho difícil você passar desatento a uma escultura depois disso.
Mas vamos à história do livro: começamos a conhecer Mimo desde a infância e, se formos por essa perspectiva, jamais acreditaríamos que ele pudesse de tornar alguém. Seu pai, em especial era mestre em não colaborar em nada. Tudo muda quando ele conhece Viola, e aqui está o quanto esse livro é encantador ao mostrar a importância de se relacionar com alguém em nossas vidas. E aqui me refiro ao relacionar, o relacionamento comum do dia a dia, sem entrar em relacionamento amoroso. Os capítulos intercalam entre o Mimo atual, na abadia, e toda a recordação do seu passado. Tem todo o contexto histórico da Itália da época, traz a questão do nanismo, Mimo é tido como anão e retrata consequências disso em sua jornada, o quanto Mimo lutou para ter a oportunidade de aprender a esculpir e depois de aprender, como apresentar e fazer disso uma profissão.
Por outro lado, não tem como não mencionar a força de Viola, o quanto ela sofre por não poder ser quem ela realmente quer ser e tem potencial para ser e algumas vezes usa de Mimo para que ele, por ser homem, possa dar sequência ao que ela gostaria de ser ou de estar fazendo. Mimo e Viola se conhecem cedo, e o autor nos prende na leitura também por mostrar o desabrochar de ambos, como a mentalidade muda, como pensam diferente, mas também como não sobrevivem um sem o outro dentro do relacionamento que é só deles.
Ah, e mesmo tendo mais de 400 páginas, com muita história para contar, espere por esperar porque depois da página 400 ainda vai ter coisa acontecendo para te deixar de queijo caído. E aliás não teria título melhor para esse livro do que “Velar por ela” porque é exatamente o que está acontecendo em cada página da obra na relação entre Mimo e Viola.
“Eu havia sido cuspido, ignorado, tinha tido que implorar por trabalho durante toda a minha vida. Da noite para o dia, eu era o homem cuja obra todos queriam ter. Tudo isso porque eu tinha aprendido uma palavra nova. Não.”
“Imagine sua obra terminada ganhando vida. O que ela faria? Você precisa imaginar o que aconteceria no segundo seguinte ao momento que você eternizou, e sugerir isso. Uma escultura é uma anunciação.”
Sinopse: No grande jogo do destino, Mimo recebeu as cartas erradas. Nascido na pobreza, é colocado cedo como aprendiz de um escultor bruto e sem talento. Ele, no entanto, possui um gênio nas mãos. Quase todos os anjos abençoaram Viola Orsini. Herdeira de uma família prestigiosa, sua infância transcorreu à sombra de um palácio em Gênova. Dotada de rara inteligência, ela se recusa a aceitar passivamente o papel social que lhe foi reservado. Os caminhos de ambos nunca deveriam ter se cruzado. À primeira vista, reconhecem-se como gêmeos cósmicos e juram nunca se separar. Embora incapazes de coexistir, Viola e Mimo também não suportam longos períodos e distâncias entre si. Ligados por um vínculo indissolúvel, eles enfrentam anos turbulentos enquanto a Itália sucumbe ao fascismo. Mimo obtém sua revanche contra o destino, mas que valor terá a glória, se isso significar perder Viola?
Sobre o autor: Jean-Baptiste Andrea é autor, roteirista e diretor. Com apenas quatro livros publicados – Ma Reine, Cent millions d’années et un jour, O pianista da estação (Vestígio, 2022) e Velar por ela –, teve uma ascensão meteórica e recebeu 19 prêmios literários, incluindo o prestigiado Prêmio Goncourt e o Prêmio de Romance Fnac, por Velar por ela.
“Velar por ela”, de Jean-Baptiste Andrea, publicado pela editora Vestígio, tem 416 páginas e está à venda nas livrarias de todo o Brasil e nas plataformas digitais.