Eu Já Estive Em “O Abrigo de Kulê”, de Juliana Valentim

Fomos convidados pela LC Agência a conhecer mais sobre essa leve obra: O Abrigo de Kulê, escrito por Juliana Valentim, publicado pela All Print Editora.
A obra tem um ‘quê’ de poesia e logo no primeiro capítulo, ao começar a história, a autora manda “o nome é a primeira linha escrita na história de uma pessoa”. O primeiro personagem apresentado é Gabriel, e eu até acreditei que ele fosse o protagonista. Pode até ser que na interpretação de alguns Gabriel seja mesmo o protagonista, mas para mim, quem mais chamou a atenção foi Maria. Sim, eles farão par romântico, mas é o desfecho disso tudo que muda completamente a trama e principalmente, o fim da obra. Como diz Maria: “o ser humano e a mania de entregar o coração a outra pessoa”.
Um dos encantos de Maria é amar livros, e como a autora descreve a personagem: aos dezenove anos ela já tinha lido mais livros do que a maioria das pessoas durante a vida inteira e por isso e por mais segredos que conta em sua história, mesmo morando em uma cidade do interior, na década de 40, Maria tem certeza de que sua vida não é tão desinteressante assim.
Isso se prova ao desenrolar do história. Maria tinha um carinho muito grande por “Negrinha”, escrita por Monteiro Lobato, mas mostrou ser mesmo favorável ao fim dos atos escravistas depois de conhecer Kulê. Lembrando que estamos falando da década de 40, a escravidão já havia acabado, mas os serviços escravos em grandes fazendas Brasil afora, não.
O livro é repleto de mulher fortes, e além de Maria, Kulê, Joana (que se apresenta no livro em momento próximo a Kulê e seguem juntas na trama), ainda temos a bailarina Nina, que terá uma forte influência na vida de Gabriel e mesmo de Maria. Nina é descendente de índios e entrou para trupe do circo que também compõem a trama porque sua pele vermelha a impedia de participar de grandes e famosos balés. Sendo assim, para realizar seu sonho, fez do picadeiro o seu palco, com muito orgulho. A trupe que surge no livro foi algo que me chamou a atenção também porque poucas vezes você vê pessoas retratando um grupo circense de bom coração, e aqui em “O Abrigo de Kulê”, eles realmente são um família.
São tantas personagens femininas fortes que até o animal do circo que ganha destaque é uma leoa, taí mais um mulherão que merece respeito. O livro é composto de sumário e 29 capítulos curtos, escritos de forma que suavizam a leitura. Em alguns momentos você até vai querer que o livro seja maior, com mais detalhes sobre o que está acontecendo, justamente porque não quer que acabe logo. O projeto gráfico também chama a atenção, em especial pela capa incrível.
E, voltando a destacar que o livro é uma narrativa, mas tem um um quê de poesia, separamos algumas frases tiradas do livro, sem spoliers e sem comprometer a leitura do que vão começar a ler a partir dessa resenha 🙂
“Todo mundo precisa silenciar, vez por outra, lavar com água salgada o avesso.”
“Joana tinha mania de abrir as janelas para olhar dentro dos olhos do dia”.
“Kulê dizia que a chuva, quando cai na terra, são as nuvens que cantam seu lamento”.
“Quando o medo se instala entre dois corações, é difícil encontrar espaço para o amor”.
“Ama-se é pela moleza que dá nas pernas, pelo encaixe do abraço, indizível, pelo cheiro. O Amor acontece é pelo cheiro.”
“Alguns amigos simplesmente se vão. De repente se perde a cumplicidade, de repente é muito tarde e todo mundo acorda cedo amanhã. Já outros chegam sem avisar, bons como panela velha, sentam logo na janela e não saem mais de lá. Mas há aqueles que nunca partem”.
Juliana Valentim é brasiliense, jornalista e escritora. É autora de dois livros anteriores de crônicas e poesias e aqui em “O Abrigo de Kulê” se aventura na narrativa do seu primeiro romance. Também tem o perfil e o site www.palavrasquedancam.com
O Abrigo de Kulê, escrito por Juliana Valentim, tem 204 páginas, foi publicado pela All Print Editora em janeiro de 2020 e está disponível na Amazon.
Janaína Leme
@eujaestiveem