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Rainer Cadete comemora 18 anos de carreira, em seu primeiro espetáculo solo, com direção de Elias Andreato

O espetáculo Diário de Um Louco, adaptado do conto homônimo de Nikolai Gogol (1809 – 1852), ganha nova montagem com Rainer Cadete interpretando um funcionário público atormentado. Elias Andreato, que em 1980 deu vida a esse personagem, também, tendo sido seu primeiro trabalho solo, vai revisitar a obra agora assinando a direção. O espetáculo estreia em curta temporada on-line de 13 a 28 de março, com sessões de sexta a domingo. Haverá tradução em libras em todas as sessões. A produção é de Priscilla Squeff e Leandro Luna. 

A montagem, celebra 18 anos do ator Rainer Cadete. No texto, o personagem se perde na cronologia dos dias e, através de seu emprego numa repartição e da paixão pela filha de seu chefe, expõe seus pensamentos, anseios e percepções do mundo por meio de uma ótica de clausura e solidão de quem não é notado. 

Para Elias Andreato, dirigir o espetáculo é como entrar em uma viagem no tempo. “Todo o meu corpo se mobiliza, todas as sensações. Fico lembrando o que eu sentia em determinados momentos, lembro o vigor, a força, o volume e o entendimento que tinha. Percebo que minha alma de artista se enriqueceu muito com este trabalho e essa construção do personagem, e, principalmente, lembro do diretor Marcio Aurélio que tanto contribuiu para o meu crescimento como artista.” 

Escrito no século 19, o monólogo antecipa a fase áurea do realismo russo, com prenuncio do que viria a ser o surrealismo. “Neste momento, trazer à cena um texto clássico sob uma perspectiva permeada pela realidade do século é 21 é, ao mesmo, desafiador e necessário, pois apresenta a estética da linguagem e costumes da época de uma maneira crível e pertinente aos dias atuais”, diz Rainer. 

“Penso que o espetáculo pode falar com as pessoas que vivem situações de assédio moral e que sofrem com o seu cotidiano mediano, mas sempre sonhando em estar numa posição superior para aliviar sua angústia, tristeza e raiva. Alguns convivem a vida inteira com isso e se tornam deprimidas, outros enlouquecem por não aceitar a realidade, que é o caso do personagem de Gogol. O espetáculo narra a trajetória de um funcionário comum, que não suporta sua vida medíocre. Gogol, nos coloca o amor impossível com um elemento a mais para detonar a grande loucura de se viver uma paixão impossível”, completa Andreato.

O autor retrata a vida de um funcionário público, Axenty Ivanovitch Propritchine, que vive a fantasia esquizofrênica do poder e da riqueza. Sua existência pobre e solitária se mostra no pequeno quarto em que vive, sua falta de importância no emprego é pateticamente simbolizada pela função que ocupa: funcionário de apontar penas de escrever. Para escapar da pequenez de sua vida, ele cria para si um mundo de fantasias, uma nova identidade que cresce até fazer dele um rei. A segunda parte da história, o coloca em um manicômio. Metáfora sobre a alienação, o texto mergulha profundamente nas causas sociais da loucura, mostrando que, na cisão entre realidade e desejo, entre o mundo que se oferece para ser vivido e o mundo a que não se tem acesso, cria-se um abismo que cinde a personalidade. 

Rainer Cadete teve seu primeiro contato com o texto através do Elias Andreato, com quem trabalhou anteriormente na peça O Louco e a Camisa, dos mesmos produtores.  Durante a pandemia causada pela COVID-19, e também impactado pela solidão imposta pela quarentena, mergulhou nas palavras deste clássico e o trouxe a uma realidade que dialoga com as camadas humanas reveladas neste momento delicado e de grande reflexão para a sociedade. 

Um pequeno quarto onde o personagem vive compõe o ambiente cênico. A iluminação registra o passar das horas, percorrendo o dia e a noite. O figurino de época registra o período em que a obra foi escrita. A trilha com o piano forte e delicado de Sergei Rachmaninoff traduz a loucura e a melancolia do personagem.

“Todos nós temos uma pouco do Ivanovitch, pois a vida é muito dura e, em algum momento, nos sentimos inferiorizados por este sistema opressor de uma sociedade que é muito cruel algumas vezes. Todos nós nos sentimos, em algum momento, não pertencendo, sofrendo alguma espécie de bullying por estar fora do padrão que a sociedade impõe, então esse personagem encontra com a gente nesse lugar, ele fala com cada um que assiste. Em especial ele se perde por amar de demais. E quem nunca sofreu por amor?”, questiona Rainer.

DIÁRIO DE UM LOUCO

Temporada On-line: De 13 a 28 de março – Sexta a domingo, às 20h.

Tradução em libras em todas as sessões.

Ingressos: R$20 em http://www.sympla.com.br

Classificação: 14 anos.

Duração: 45 minutos.

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