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Eu Já Estive Em “O Pianista da Estação”, de Jean-Baptiste Andrea, da Editora Vestígio

De uma sensibilidade sem tamanho, hoje vamos falar sobre O Pianista da Estação, escrito por Jean-Baptiste Andrea e publicado pela Editora Vestígio. Questionado de o porquê estar sempre tocando em locais públicos, com aquele ar de quem espera ou procura alguém, Joseph narra a história e começa contando detalhes da sua vida em família, com seu pai, mãe, as brigas com a irmã e seus esforços para agradar a Rothenberg, seu exigente professor de piano. Até que o fatídico acidente acontece, ele perde pais e irmã e se vê sozinho no orfanato Os Confins.

E sim, num piscar de olhos a vida muda. No caso de Joe, tudo muda porque por ser menor de idade, ele tem 15 anos quando se vê órfão, é obrigado a deixar sua casa e sair com uma mísera mochila com algumas peças de roupas que ainda lhe serão tiradas e trocadas pelo uniforme do orfanato. Sim, acredito que muitos vão dizer, que bom que existem abrigos, mas dois pontos: para quem teve um lar amoroso, nunca vai ser igual, e infelizmente, por esse mundão afora, sabemos que podem existir muitos orfanatos que são insuficientes por aí, mas espero que nenhum deles como Os Confins.

Aqui falo com um pouco de propriedade porque perdi meus pais cedo, ou seja, também sou órfã. Já tinha mais de 20 anos, então não fui para um abrigo e graças a Deus já tinha uma profissão que me deu condições para me manter financeiramente, mas posso dizer com todas as letras que perder os pais já é um choque por si só. Fico imaginando além disso, ainda ter que se deparar com um orfanato que cuidava das crianças nas condições aqui apresentadas.

Castigar, dar chibatadas, correr com o lençol pendurado nas costas – apenas o lençol – porque fez xixi na cama, trancafiar em um quarto como uma solitária por desrespeito, deixar sem comer, essas são algumas das atrocidades das quais Joe presenciará nos próximos anos de sua vida. Como é o próprio Joe que conta a história e ele começa o livro em uma estação muitos anos depois de todo o ocorrido, já dá um quentinho no coração por saber que ele sobreviverá a tudo isso. Se restou sequelas, aí só lendo o livro para saber mais.

Joe tem como amigo imaginário Michael Collins, astronauta norte-americano que marcou presença na chegada do homem à Lua (isso acontece no dia fatídico que Joe perde os pais). O mais interessante é Joe prefere Collins porque ele não foi protagonista nesta ação. Ele ficou em órbita da Lua, enquanto Neil Armstrong e Buzz Aldrin pousaram na superfície. Mas, como Joe mesmo defende, sem Collins, a missão não estaria completa.

Vale destacar que o autor consegue colocar em palavras incríveis a pureza de Joe, a visão de um adolescente de tudo o que está acontecendo, seus questionamentos, mesmo que internos, sua visão de todos os atos que acontecem ao seu redor. Acho que isso foi o que mais me marcou nessa leitura. Deixo alguns trechos da obra abaixo para tentar descrever o que tento explicar:

– Minha enfermidade não consta nas enciclopédias médicas.

– Ele era mais enrugado do que papel amassado (… como Joseph descreve seu professor de piano).

– Ninguém ri impunimente da miséria de um homem.

– Eu estava doente. De todas as maldições dos profetas, de todas as pestilências que assolavam a Terra, eu pegara a pior. Eu estava órfão…

– O ambiente cheirava a sala de estudo e a orações sem respostas, nunca atendidas.

– A humanidade dos pequenos passos não interessa a ninguém.

– É mais difícil subir no palco para uma pessoa do que para mil. É difícil decepcionar mil pessoas.

– Quando chegar na minha idade você vai ter medo do silêncio, não do barulho.

– Ela me olhou longamente, como as mulheres sabem fazer quando declaram guerra, uma guerra impiedosa.

Sinopse: Joseph Marty é um senhor de 69 anos que toca Beethoven divinamente em pianos públicos. Um dia ele está numa estação de trem na Europa: outro, em um aeroporto nos Estados Unidos. Joe compartilha seu talento em meio a viajantes indiferentes e, enquanto toca, ele também espera. Mas quem, e por quê? Aos 15 anos, após seus pais e sua irmã morrerem tragicamente em um acidente de avião, ele foi enviado a um orfanato religioso nos Montes Pirineus chamado Os Confins. O nome já diz tudo: depois de Confins, não há mais nada. Lá se acolhem os abandonados, os incapazes. Seus dias são feitos de rotina, tarefas e maus-tratos. Até o encontro improvável com Rose, uma jovem da sua idade. A vida, para Joe, passa então a se resumir a sonhos de fuga. Um premiado e emocionante romance de formação sobre a orfandade, a música, a amizade e o amor.

Escritor, diretor de cinema e roteirista, Jean- Baptiste Andrea nasceu em 1971, na cidade francesa de Saint-Germain-en-Laye. Cresceu em Cannes, onde começou a fazer curtas metragens antes de se mudar para Paris e se formar em Ciência Política e em Economia. Em parceria com Fabrice Canepa, escreveu e dirigiu seus primeiros filmes: Rota da Morte, Grande Coisa e Irmandade das Lágrimas. Seu primeiro romance, Ma Reine (Minha Rainha), foi publicado em 2017 e amplamente premiado na França. Além desse, também é autor de obras Cem milhões de anos em um dia, 2019, e O pianista da estação, de 2021.

O Pianista da Estação, de Jean-Baptiste Andrea, recebeu os prêmios Grande Prêmio RTL-Lire 2021 e Prêmio Livres & Musiques 2021. O livro tem 251 páginas, foi publicado pela Editora Vestígio, e está à venda nas livrarias de todo o Brasil, plataformas de e-commerce e no site da editora.

Janaína Leme

@eujaestiveem

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