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Eu Já Estive Em “Destransição, Baby”, de Torrey Peters, pela editora Tordesilhas

Hoje vamos falar sobre Destransição, Baby, escrito por Torrey Peters e publicado pela editora Tordesilhas. Aqui vamos nos deparar com um triângulo amoroso. Reese é trans e se relacionava com Amy, também trans. Depois de um tempo de relacionamento, elas decidem ter um filho, mas mesmo nos Estados Unidos – elas moram no Brooklyn, em Nova York – é mais difícil adotar pelo sistema público quando não se tem, entre aspas, uma família tradicional. Reese quer muito, mas parece que se assusta quando as reuniões com a assistente social começam, e Amy, sozinha, não se sente confortável para abraçar a jornada.

Para mim, esse foi o verdadeiro baque que vez Amy destransicionar. Isso, somado a todas as dificuldades que uma mulher trans precisa enfrentar dia após dia, apenas por estar lutando para sobreviver. E, escolhendo a dedo, Amy, que passa a ser Ames, começa a se relacionar com sua chefe, Katrina, e advinha: ela engravida. Para Ames foi uma surpresa, já que todos os hormônios que tomou para transicionar deveriam tê-la deixado estéril.

E, para dar mais emoção ainda a trama, Ames decide formar uma família com duas mães e um pai: Katrina, mulher cis que está gerando a criança, Reese, mulher trans que sonha muito ser mãe por já ter o dom da maternidade amadrinhando inúmeras trans e Ames, que nasceu James, transicionou para Amy e destransicionou para Ames.

Os capítulos do livro se misturam entre semanas pós concepção e semanas / anos antes da concepção, intercalando entre a história atual e o que veio antes do trio se conhecer e tentar ter o bebê juntos. É um grande aprendizado sobre a cultura trans feminina, especialmente sobre as tantas formas de ser mãe que podem existir. Vale um ponto de atenção também dito logo nas primeiras páginas no livro: a tradução. Luisa Geisler, escritora e tradutora literária, fala sobre o processo, já que a obra é repleta de termos usados por trans e eles não podem ser traduzidos de forma suave, precisam expressar o mesmo sentido daquilo que foi dito em inglês. Que desafio!

Vamos a alguns trechos do livro:

  • Reese precisava de tempo para aprender a ser ela mesma e ficar consigo mesma. Mas ela não conseguia ficar sozinha com moderação.
  • Com Amy, Reese havia chegado o mais perto de uma vida doméstica que ela imaginava ser possível para uma garota trans – a confiança e o tédio e a estabilidade que agora pareciam tão opacos quanto um sonho lembrado logo depois de acordar.
  • As práticas de namoro de Reese prescreviam que os únicos travequeiros a se evitar eram mulheres criptotrans, aquelas que querem ser mulher, mas se reprimem tanto que não conseguem aguentar a ideia, e que então vivem suas fantasias por meio de você.
  • Mais tarde, muito mais tarde, ela aprenderia a palavra para isso: dissociação. Ela pensara que só estivera fantasiando.
  • Ela até tinha feito um teste, o Cogiati (Invetário Combinado de Identidade de Gênero e Transexualidade – na sigla em inglês), desenvolvido para mulheres trans com base nos modelos psicológicos DSM para determinar se as pessoas que fazem o teste eram transexuais de verdade, que precisam passar pela transição…
  • Para que suas esperanças possam ser destruídas, você tem que ter esperança em primeiro lugar.
  • O que me parece, ao menos vendo de fora, é que a maternidade é só um teste vago feito para todo mundo se sentir inadequada.

Sinopse: Reese tinha quase tudo o que sempre desejou: uma relação estável com Amy, um apartamento em Nova York, um trabalho que ela não odiava. Tinha conquistado o que gerações anteriores de mulheres trans apenas sonharam: uma vida mundana, banal e confortável. A única falta que sentia era de uma criança. Porém sua namorada, Amy, destransicionou de gênero e tornou-se ames, fazendo tudo desmoronar. Agora Reese está em um ciclo autodestrutivo: para evitar a solidão, dorme com homens casados. Ames também não está feliz. Ele pensou que a vida ficaria mais fácil ao destransicionar e viver como homem novamente, entretanto, essa decisão custou seu relacionamento com Reese – o que significou perder sua única família. Apesar da relação amorosa ter acabado, ele busca um caminho de volta para ela. Quando sua chefe e amante Katrina, revela que está grávida dele – e que não tem certeza de que quer o bebê -, Ames se pergunta se não seria essa chance pela qual ele estava esperando. Poderiam os três formar uma família não tradicional e criar o bebê juntos? Neste provocativo romance de estreia, caminhamos pelo sinuoso, vulnerável e confuso terreno da feminilidade, no qual boas intenções não são o bastante. Torrey Peters percorre de forma brilhante e destemida os mais variados tabus de gênero, de sexo e de formas de relacionamentos, resultando num enredo original, espirituoso e comovente.

Torrey Peters é norte-americana e cresceu em Chicago. Atualmente vive no Brooklyn, Nova York. Em 2021, a autora foi indicada ao Women’s Prize for Fiction com seu romance de estreia Destransição, Baby. É graduada em Artes e Literatura Comparada pela Universidade de Iowa e pela Darthmouth College, respectivamente. Torrey dirige uma moto rosa e divide seu tempo entre o Brooklyn e um chalé isolado em Vermont. Nos últimos anos, Torrey tem feito parte de um movimento literário de pessoas trans que compartilham seus trabalhos entre si sem barreiras.

Destransição, Baby, escrito por Torrey Peters, tem 320 páginas e está a venda nas livrarias de todo o Brasil. Também está à venda nas plataformas digitais como a Amazon, no formato impresso e digital. Mais detalhes no site da editora Tordesilhas.

Janaína Leme
@eujaestiveem

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