Eu Já Estive Em “Primeiras Estórias” de João Guimarães Rosa, publicado pela Global Editora

Não, eu não li Guimarães Rosa no colégio e particularmente, eu avalio como: ainda bem! Se você não tem um preparo ou um acompanhamento para ler Guimarães Rosa, principalmente no começo do seu contato com o mundo dos livros, sim, entendo que vai ser bem complexo entender e gostar da leitura. Mesmo com 45 anos e já tendo lido tantos livros, se eu falar que entendi tudo o que li, não será verdade! Quantas palavras inéditas que vi por aqui, quantos nomes inusitados, e sim, agora posso dizer que li mais um clássico da literatura brasileira.
Na nota da editora, a Global já sinaliza que segue o norte da quinta edição do livro – publicada pela livraria José Olympio Editora, em 1969 – e mantém a responsabilidade de conservar a inventividade da linguagem por Rosa concebida, realizando um trabalho minucioso, contudo pontual, no que diz respeito à atualização da grafia das palavras no que diz respeito às reformas ortográficas que aconteceram em 1971 e 1990. E acreditem ou não, isso é superimportante, porque cada vez mais os clássicos estão sendo reescritos de forma mais simples, justamente pela dificuldade encontrada na interpretação dos textos, o que faz com que grandes obras deixem de ser grandes obras.
Então obrigada, Global por manter o texto original, mesmo sendo difícil de entender. Somos nós, leitores, que precisamos aprender mais sobre literatura e aprofundar a nossa leitura.
E aí, obviamente, por já ser bombardeada de outras referências, foi o texto com o qual eu mais me identifiquei neste livro. O mais legal é você pegar um conteúdo de 1962 e hoje perguntar no ChatGPT e ter a resposta sobre: “conto que explora temas profundos como perda, esperança, família e identidade. A canoa no rio representa muito mais do que um simples objeto flutuante; ela é um símbolo da busca interior e da busca por significado.”
Obviamente não vou resenhar Primeiras Estórias porque nem tenho roupa para isso, sou apenas uma humilde leitora que finalmente conheceu Guimarães Rosa, graças a nossa linda parceria com a Global Editora. Mas, para quem, assim como eu, não conhecia a obra, além de “A terceira margem do rio” tem mais outros 20 textos por aqui, disponíveis para serem lidos. Entre os meus preferidos ficam: Famigerado e o quanto a complexidade de uma palavra e o seu entendimento pode mudar e/ou salvar vidas, O espelho, por ser um texto onde, diferente dos demais, estamos destacando uma coisa e não pessoas, Sorôco, sua mãe, sua filha por mostrar o quanto a loucura é parte da nossa vida, ou não. Pelo menos foi assim que interpretei cada um desses textos citados.
E, melhor do que tudo, é ter uma análise do professor e pesquisador Luiz Costa Lima – “O mundo em perspectiva: Guimarães Rosa” no fim do livro. Pelo menos para mim, esse conteúdo me ajudou muito a entender e abrir horizontes para tudo que li antes. Inclusive a análise de “Um homem muito branco”, um dos textos lidos por aqui, é extremamente importante, assim como outros pontos destacados neste conteúdo tão rico. E não menos importante, a obra termina com a cronologia do autor.
“O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo de miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.”
“A vida era o vento querendo apagar uma lamparina. O caminhar das sombras de uma pessoa imóvel.”
“A vida de um ser humano, entre outros seres humanos, é impossível. O que vemos, é apenas milagre; salvo melhor raciocínio.”
“Pai, a vida é feita só de traiçoeiros altos-e-baixos? Não haverá, para a gente, algum tempo de felicidade, de verdadeira segurança? Faz de conta, minha filha… Faz de conta…”
“Vocês vão se esquecer muito de mim?”
Sinopse: Em “Primeiras estórias”, João Guimarães Rosa constrói narrativas curtas que tratam de matérias diversas da experiência humana, como a busca da felicidade, a necessidade do autoconhecimento e as maneiras de se conviver com a inevitável finitude da vida. Composto por 21 contos, “As margens da alegria”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “Famigerado” e “A terceira margem do rio” são alguns dos feitos sublimes desse escritor, que levou a artesania da palavra a patamares jamais experimentados na literatura de língua portuguesa.
João Guimarães Rosa nasceu em 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais, e faleceu em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro. Publicou em 1946 seu primeiro livro, Sagarana, recebido pela crítica com entusiasmo por sua capacidade narrativa e linguagem inventiva. Formado em Medicina, chegou a exercer o ofício em Minas Gerais e, posteriormente, seguiu carreira diplomática. Além de Sagarana, constituiu uma obra notável com outros livros de primeira grandeza, como: Primeiras estórias, Manuelzão e Minguilim, Tutameia – Terceiras estórias, Estas estórias e Grandes sertões: Veredas, romance que o levou a ser reconhecido no exterior. Em 1961, recebeu o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra literária.
Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, publicado pela Global Editora, tem 184 páginas e está à venda no formato impresso e digital nas plataformas de e-commerce e nas livrarias de todo o Brasil.
Janaína Leme