Eu Já Estive Em “Às Margens do Ipiranga”, de Rodrigo Trespach

Hoje vamos falar um pouco sobre a história do Brasil, tendo como base “Às Margens do Ipiranga – A viagem da Independência – a jornada de D. Pedro, do Rio de Janeiro a São Paulo, em agosto e setembro de 1822”, escrito por Rodrigo Trespach, publicado pela Citadel Editora – Aventuras na História.
Acredito que o grande diferencial desse livro é o fato de o autor ter escolhido um período específico para escrever, o que ajuda ele ser rico em detalhes. São oito os capítulos: Do Fico ao manifesto às nações amigas, O Rio de Janeiro e o príncipe regente, A viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, Alegra-te, Pauliceia, A princesa e o Conselho de Estado, A viagem a Santos e o Andrada, Independência ou Morte e Império do Brasil. O autor apresenta também uma linha do tempo do trajeto Rio-São Paulo, personagens históricos, vocabulário histórico, notas e referências.
São muitos os personagens, se é que assim podemos chamar, que fazem parte da história da Proclamação da República, achei até o nome da rua que corta a minha – Otavio Tarquínio de Sousa, aqui no livro, e brincadeiras à parte, foi um importante historiador brasileiro com uma referência a d.Pedro que mostra o quanto a escrita é perfeita por aqui: “numa insaciável fome de mulher, numa exaltação lúbrica, numa lascívia quase sem pausa”, escreveu Otavio Tarquínio de Sousa. Adorei o trecho da carta que D. Leopoldina escreveu ao pai após chegar ao Brasil: “nem pena, nem pincel podem descrever a primeira impressão que o paradisíaco Brasil causa a qualquer estrangeiro”.
Também aprendi que Guaratinguetá significa muitas garças brancas nas línguas dos habitantes originais do Brasil, aprendi o que é beija-mão e aí eu deixo para quem ler o livro aprender também. Também tem a “bernarda”, expressão corrente na época que vem de bernardices, que havia se transformado em sinônimo de tolice ou asneira, pois assim os frades beneditinos se referiam às reformas realizadas por São Bernardo.
E pensa imaginar que o núcleo urbano entre Anhangabaú e Tamanduateí era formado por 38 ruas, dez travessas, sete pátios e seis becos e aproximadamente 1.360 fogos – como eram chamadas as habitações. O censo de 1822 apresentou a amostragem das profissões e ocupações na cidade: sete médicos e cirurgiões-mores, três boticários, dois advogados e um tabelião; três professores de gramática, três de alfabetização, um de retórica, um de teologia e um de filosofia; 92 costureiras, 48 rendeiras, 33 tecelões, 46 negociantes de fazendas secas, 45 de molhados e um de secos e molhados, 24 carpinteiros, 21 alfaiates, 15 ferreiros, 20 sapateiros, 8 ourives, 10 marceneiros, 8 seleiros, 5 pintores, 4 pedreiros, 57 lavradores e 8 tropeiros, além de clérigos, militares, latoeiros, músicos, padeiros, pescadores, relojoeiros, violeiros, entre outros. Ou seja, houve um tempo que era possível contabilizar os profissionais.
E a base da alimentação do paulista, sabe qual era? Carne-seca, toicinho, batata, milho, arroz, feijão, farinha de mandioca e canjica; a comida nacional dos paulistas. Varíola também era conhecida como bexiga, por conta das bolhas que estouravam na pele. Ou seja, enquanto você lê sobre a história do Brasil no período entre agosto e setembro de 1822, também conhece tantas peculiaridades como as já citadas aqui. A obra também apresenta ilustrações que ajudam a contextualizar o período histórico.
Sinopse: há dois séculos, um jovem de apenas 24 anos percorreu mais de 1.400 quilômetros em uma viagem de um mês, do Rio de Janeiro até São Paulo e Santos, então pequenas cidades que juntas mal chegavam a 12 mil habitantes. O destino do Brasil foi decidido nessa viagem, em cima de uma mula, o animal que d. Pedro montava naquele 7 de setembro de 1822. Apesar da importância do dia ― e muito já foi escrito sobre o brado “Independência ou Morte” ―, como o então príncipe regente chegou a São Paulo é um tema pouco conhecido do público brasileiro. Qual foi o trajeto? Por quais estradas e cidades passou? O que havia nelas de interessante? Como as viagens eram feitas naquela época e quem acompanhava o futuro monarca do país? Em um texto envolvente, tendo como base uma sólida pesquisa documental realizada em jornais de época, relatos de viagem, livros de memória e cartas ou documentos, mantidos em acervos no Brasil e na Europa, Rodrigo Trespach nos leva através do tempo, voltando duzentos anos, narrando como o hiperativo d. Pedro valeu-se de cavalos e mulas para cruzar cidades e vilas, vales e serras, e atravessar rios e arroios. Durante quase duas semanas, d. Pedro emitiu decretos, destituiu governos, nomeou gente para cargos públicos, assistiu a missas, plantou árvores, apostou carreira de cavalos, comeu com os escravos e achou tempo para encontros sexuais. São essas histórias fascinantes que Trespach apresenta aos brasileiros do Bicentenário nas páginas de “Às margens do Ipiranga”.
Sobre o autor: Rodrigo Trespach é historiador e escritor, autor de 16 livros e de diversos artigos e matérias para jornais e revistas (inter)nacionais. Tem como foco de pesquisas os séculos XVIII, XIX e XX. Além de membro do IHGRGS, atua como colaborador da Genera, no Brasil, e do IGL, da Universidade de Mainz, na Alemanha.
“Às Margens do Ipiranga – A viagem da Independência – a jornada de D. Pedro, do Rio de Janeiro a São Paulo, em agosto e setembro de 1822”, escrito por Rodrigo Trespach, publicado pela Citadel Editora – Aventuras na História, tem 224 páginas e está à venda nas livrarias de todo Brasil assim como nas plataformas de e-commerce no formato impresso e digital.